segunda-feira, 30 de junho de 2014

"E" DE ESPERANÇA...


Tela: AF00242 - Auber Fiori


“E” de esperança...


De caminhos cruzados,
De palavras alçadas ao vento
Com pousada certa e diretrizes
Carinhosas, aconchegantes,
Como filhote no ninho
Ao anoitecer!

“E” de porto solidão
Sem a dita solitude, 
Vem tudo de um primeiro verso
Ora calado no peito ou na alma, 
Não importa, narra-se assim 
O preito mudo do imo, quando se lê
“E” de paixão!

“E” de histórias contadas 
De histórias há contar e culminar 
N’um abraço introspectivo, afetivo, 
Ah, eu quero é brincar com o abecedário.
Em um beijo lendário, feito uma fábula
Escrevendo-se pelas doze badaladas, 
“E” de é meia noite!

“E” de amar, de filosofar 
Dentre os cânticos oriundos do céu 
Lá onde as estrelas cantam em silêncio, 
Em divinas metamorfoses, em saudade, 
Por ângulos refletidos somente 
Pelo coração, pelos estribilhos, 
“E” de amor!

 Auber Fioravante Júnior

DE QUEM SABE DECORE A CASA DO AMOR


Imagem - Natasza Sobczak


DE QUEM SABE DECORE 

A CASA DO AMOR


No manto lilás que me cobre
Singram flores da paixão…
De olhos vendados ao passado
Remendo o presente em suaves apalpadelas
À terra que ainda me é familiar…
Sinto uma névoa a brilhar,
Um clarão que persiste em assombrar,
Uma vida que existe, mundo ainda a descobrir…
São flores, meu amor…
Sinto o cheiro do olor nobre,
Não têm a mesma cor, ainda assim, é vida
Que espalho pela terra que ainda me faz sorrir;
São grãos de ligeiras aguarelas
Que dedilho e te ofereço, é gesto nobre
De quem sabe decore a casa do amor.

® RÓ MAR

TRISTE NOITE


Imagem - Franciszek Żmurko 


"TRISTE NOITE"


Noite escura!
Sem luar nem estrelas
Sem fontes a cantar
Sem ninguém ao lado para falar.
Noite escura!

Tão escura como a solidão
Amigas que andam sempre de mão dada
Onde a razão deixa de ter razão...

Noite escura!
Que nem entra pelo ferrolho da velha porta
Com a aldrava carcomida pelo caruncho 
Enfeitada com teias de aranha com fios de seda
E ramos de funcho.

Noite escura!
Que põe silêncios onde havia sonhos
Silvas onde viviam rosas amarelas
Saudades onde reinava o amor
E fecunda o corpo inanimado 
Triste, só a gemer de dor.

domingo, 29 de junho de 2014

SILÊNCIO


Imagem - Google


SILÊNCIO


Mergulho no silêncio...
A quietude, das horas vagas, envolve-me...
O silêncio que fala, impregna minha’ alma 
Não me reconheço na imensidão dos ruídos abstratos
Meu espírito titubeante vagueia,
Nesse jogo de luz e sombra, de sonoridade e silêncio,
De ausência e presença.
Navegando no barco do destino,
Contemplo meu universo,
E, no espelho das águas da vida
Inesperadamente,
defronto-me com fragmentos do meu “eu”...
reflexos de um “eu” dilacerado envolto num
emaranhado de cacos de esperança, sonhos, projetos, vida...
Aos poucos começo a me entender, a me perdoar a me amar
Não consigo calar o silêncio
Vejo-me, então sugada por redemoinhos,
Dos encontros e desencontros. 
Bailando freneticamente,
vislumbro a magia 
De nascer, ou morrer
Atos inerentes como estar só. 
Por que teria eu, 
Medo das chuvas tempestivas,
Se me encontro em profundas e límpidas águas 
Num extasiante mar de emoções vigiado por Poseidon, 
Cenário de sonhos, povoado por onomatopéias do silêncio 
Interrompe-se o giro, cessam-se os sons
Aí, o silêncio mergulha no silêncio...
Na solidão, emirjo e bebo na fonte da inspiração,
Quando as asas do vento me
Impulsionam rumo ao vazio.
São prófugos momentos,
arrebatado pelo amor à poesia.
E assim, na escuridão, cúmplice da noite 
O silêncio abre seus panos 
e volta a gritar...

Elair Cabral

DEDICO-TE ESTAS PALAVRAS...


Dedico-te estas palavras…


E eu como homem que sou
Queria ler esse pensamento
Vivê-lo como alguém amou
Revelá-lo sem ser tormento

Fazê-lo viver no teu eu
Dar-lhe a luz da minha alma
Fazer com que ele fosse só meu
Sem que perdesse em ti a calma

Serias tu esse lindo amor
Que um homem em si deseja
Que beleza nesse teu ardor
Minha alma a tua almeja

És uma estrela tão luminosa
Que gostava de ter a meu lado
Tornar-te-ia a mais famosa
Pelo menos a dedicar-te um fado

Há momentos que te acrescentam
Essa beleza que eu sinto em ti
Neste mundo alguns lamentam
Não viver como eu já vivi

Vivi esta vida que tenho
Vivi-a sempre a preceito
Para ti sempre contenho
Uma palavra do meu jeito

Armindo Loureiro 

SOMOS UM


Imagem - Google


SOMOS UM


Desviei o olhar do agressivo...
Pousei-o na alegria do abundante carisma!
Partilhas intensas de sol e luar,
livros, lições e lealdade...
Ombros para estancar o pranto!
Os sorrisos se fundiram num beijo
E a cada tropeço éramos nosso próprio amparo
Luz e cenário para os sonhos
Meus ideais e os seus firmavam-se 
em alicerces de carinho
A solidão rendeu-se à sua e minha presença
Gritamos em desconsolo!
Fomos ouvidos pela paciência
Era verdadeiro... Era doação, enfim, era amor!
E agora?
Depois das badalas do tempo, de tijolos apodrecidos 
pelo sufoco do limbo...
Depois do vergar dos troncos...
De grande parte das folhas serem
arrastadas pelos vendavais,
da pele em lassidão,
continua sendo amor?
Ou, respeito e consideração?
Já vale... Afinal, só fomos dois,
depois de nos tornamos um...

Elair Cabral

A VIDA EMPRESTADA…


Imagem - Bellissime Immagini 


A VIDA EMPRESTADA…


A vida são três dias e um bilhete de ida
Uma semente que nasce, cresce e morre
À velocidade de uma locomotiva, uma estadia
Onde tudo é belo, ou horrendo e tudo corre.

Três dias apenas de uma estrada longa
E tanto que fica para viver, ainda assim vale ser
Vida enquanto há vida, a partida nem sempre é amiga
E não se sabe o que está do lado de lá, é preciso morrer.

É preciso viver o tempo que é e não ter pressa do amanhã;
É preciso amar a vida enquanto é vida;
É preciso viver a vida como se fosse a única manhã;
É preciso ver o sol nascer e o seu pôr num só dia, pode não haver amanhã.

A vida são três dias e um bilhete de ida…
Tem alma, coração e muita natureza a descobrir;
Tem a força do vento e um mundo que está de partida;
Tem o jeito de um mistério que não se consegue abrir.

É preciso escalar montanhas, beber água de todas as fontes
Para ser humano de verdade… Dias contados, histórias inacabadas…
Vai sempre alguém lembrar daquele que correu montes
E foi gente pela vida emprestada que findou em nadas.

® RÓ MAR 

sábado, 28 de junho de 2014

COMPROVADO AMOR


ALIBERTO BARONI (1911-1994)
"O MÉDICO" (ÓLEO)


COMPROVADO AMOR


Despertas a vida, esqueces-te de ti, vês-te nos outros.
Percorres os leitos que se abrem a teus olhos
persegues a cura, queres salvar a todos.
Choras por dentro quando perdes um só
é a tua vida que está em jogo.
Largaste tudo, quiseste fazer da lide a vida
porque tal como aqueles que sofrem 
também tu, impotente, perante as barreiras 
que o mistério da ciência impede. 
Há em ti o murmúrio constante
de um amor perene, vida a todo o custo
que ama um qualquer.
Partiste a vaidade ao meio
Escolheste a vida, motivas o viver. 

Fernando Figueirinhas

AMAR-SE É VIVER-SE




AMAR-SE É VIVER-SE  


Proponho, para ti, a fundação de um lugar novo,
com o teu nome a dar-lhe o nome.
Será, esse lugar, um espaço maior do que o teu corpo,
só que dentro de ti mesmo.

Se te sentes deslocado
(peixe sem mar),
é porque antes te perdeste de um lugar assim:
também dentro de ti, 
também enorme,
e também com nome igual ao teu.

Entra no teu âmago – é aí que, ao mesmo tempo,
te reencontras e te deves instalar;
não te percas de ti; está tudo aí.

Depois, viaja pelo mundo 
(nem precisas de ir muito longe),
e vai a lugares com nomes de outras pessoas
e, quando te renderes aos encantos de um,
privilegia-o como destino teu,
visita-o, amiudadamente, 
e deixa-te voltar – sempre!

[Vai delongando as tuas estadas nesse alguém…]

Foi sempre assim que se apaixonaram
os que, como eu, antes se perderam.

Vivo, hoje, simultaneamente,
em dois lugares – bem mais feliz! 
Seus nomes: o meu nome e o nome dela.

Sérgio Lizardo

ENCONTROS FELIZES...


Pintura - Gérard Di Maccio


Encontros felizes…


Um dia perdi-me por alguém
Que era para mim um exemplo
Chamei-a assim de meu bem
E quis levá-la comigo ao templo
Quis levá-la, quis a sua bênção
Para uma vida vivida a dois
Há homens que nisso não pensam
E perguntam assim, por quem sois
Agora que resolvemos o dilema
Nessa euforia que havia em nós
Deste-me azo a fazer este poema
Porque contigo quase perdi a voz
Sinto-me feliz e contente
Por te ter aqui a meu lado
E jamais te tiro da minha mente
Nem me perco em outro Fado
Gostei de ti logo à primeira
Naquele dia em que te vi
E procurei seguir a tua esteira
No caminho de vida que percorri
És na verdade um ser diferente
De muitos outros que conheci
E se contigo não estivesse contente
Desistiria no mundo do que já vivi
Vivo assim para o teu eu
Vivo numa conjuntura tão alegre
E desde que teu coração é meu
O meu, a tua vida persegue
Vale a pena viver assim
Vale a pena saber quem sou
E tu não me digas a mim
Que em mim eu já não estou

Armindo Loureiro 

VAMOS FAZER DE ESPINHOS, LINDAS ROSAS


Imagem de Fátima Guedes


“VAMOS FAZER DE ESPINHOS, 

LINDAS ROSAS”


Nos teus olhos há um brilho estranho 
Que embeleza ainda mais a tua fronte; 
Dos teus lábios, sorris para o horizonte
E refletes ainda do teu cabelo castanho,

Um esquisito e puro aroma sem igual…
Vestida de grinalda e assim perfumada
Quiçá de flores de um horto celestial,
Até a gaivota lá no ar, ficou encantada!

Tomei-te em minhas mãos, e beijei-te!
Frui teu perfume inebriado com deleite.
E que te fique na memória, o momento: 

A partir de hoje, o nosso pensamento,
Será fazer de espinhos, lindas rosas,
Pois só o nosso amor as fará vistosas!

Alfredo Costa Pereira

OIÇO O SOM DA DOR...




OIÇO O SOM DA DOR...


oiço,
mesmo que não queira,
oiço..

a dor tem som,
um som sombrio,
no silêncio do vazio
ressoa, 
no ouvir da Alma,
ecoa,
o som deu um nó,
sem dó,
mutila o sorriso,
amputa a beleza,
cega-me os olhos,
de incerteza,
este mar, 
bramindo,
de profusas aguas,
desnecessárias lágrimas,
que nem lavam as mágoas
que me nascem no olhar, 
continuo ouvindo,
a dor,
sorrindo,
da minha,
tristeza...

oiço o som da dor,
atado num nó,
sem dó,
sem pressa,
de 
acalmar...

rosamar

quinta-feira, 26 de junho de 2014

NO TEU OLHAR


Imagem - Bellissimi Immagini


NO TEU OLHAR 


No teu olhar 
Faço estadia sem hora para voltar, 
São momentos de eterna magia 
Que contemplam os que ainda amam a vida. 
São luzes da ribalta no azul-esmeralda, 
Reflexos que medram 
As ‘meninas’ dos olhos. Na alegria 
De espirais rodopiam 
Os celestes pela alma, rosas 
Intemporais que apelam 
Para o sexto sentido, a utopia. 
Sempre algo inexplicável 
Que se bebe em lufadas de ar 
Fresco e se degusta nas lustrosas 
Faces que a lua depositou no coração. 

No teu olhar 
Faço estadia sem hora para voltar, 
Tenho todo universo no presente 
E o teu sorriso imerge, labareda 
Que enraíza no corpo, a semente 
Que quero mui cultivar 
Em singelas silabas que pronunciem o desejo 
Dos lábios. Perceptível 
Tempo que habito, a vida que amo e beijo 
Em suaves caricias ao dedilhar 
A leda pena que voou 
Ao meu encontro nas asas do teu olhar. 
O sigiloso azul que persiste em amar 
Habita lá no céu, enamorado corou 
Ao som da troca de olhares e fez-se expressão. 

® RÓ MAR 

A COR DA ESPERANÇA



 Poema e Ilustração de Paula Delgado

DEFINIÇÃO DO AMOR





DEFINIÇÃO DO AMOR


Bem ali, na esquina do verso, numa noite vestida de estrelas e envolvida em um manto de luar estava marcado o encontro... Um encontro dos deuses que compõem a estrutura do poema. A prosa não compareceu por pura falta de tempo devido ao gênio deveras prosa; estava toda enrolada a contar causos enormes e encantar leitores apaixonados! Na verdade, quis deixar o assunto para ser r...esolvido pelo poema e demais componentes do universo poético! Os gêneros lírico, dramático e épico, mandaram mensagem dizendo que estavam muito ocupados arrancando lágrimas emocionadas de corações preciosos, mas que, certamente estariam presentes na resolução do problema. A métrica não veio, porque a escansão dos últimos trabalhos estava toda errada, o que atrapalhou sua participação, ainda para piorar estava enfrentando uma desenvergonhada série de plágios em poemas consagrados, coisa de arrepiar! Descansava dessa luta em momentos que sorria em lindas e metrificadas obras! A falta de ritmo em um acervo de poemas deixara a estrutura poética meio que depressiva, mas precisava tocar em frente os ensejos desse mar de poetas sonhadores e sensíveis! No jardim das rimas emparelhadas a ordem era passar na esquina dos versos livres, um pouco acima da esquina do verso rimado, para irem juntos e isso complicou a vida destas, o que resolveu-se rapidamente com uma ajudinha do vento que muito solidário soprou com carinho a ajudou-as a chegar a tempo. Ficaram bem juntinhas, tagarelando sem parar; mal sabiam do que se tratava a reunião. As rimas alternadas, bem mais sensatas ficaram atentas e, de vez em quando davam uma olhada com jeito de mato para as rimas preciosas, que aparentavam serem um pouco orgulhosas! Metidas a besta, eu diria, não opinaram alegando que ocupavam uma posição privilegiada e não podiam ficar reclamando dos poetas, por aí. Eu, para falar bem a verdade às achei meio..., excêntricas. O tumulto ficou por conta das palavras que estavam indignadas pela mutilação que sofrem seguidamente. Também se sentiam indignadas com o lado podre que estava infiltrando palavras de baixo calão, escandalizando a senhora magia, tão meiga e cheia de luz. A pontuação estava de mau humor pela indiferença, ou com o mais que se torna menos... Mas, a calçada do poema conseguiu apaziguar os ânimos. A Poesia, linda em seu caráter que emociona, toca a sensibilidade e sugere emoções, com seus sonhos, alma e inspiração, ficou calada, pois não quisera pôr lenha na fogueira e qualquer manifestação da parte desse lado emotivo ferveria os ânimos... - Melhor ouvir sem intervenções (Afirmara com categoria). Alguns elementos chegaram depois que a reunião havia acabado, mas assinaram a ata, concordando com o resolvido. A calçada do poema abriu a reunião apresentando a pauta que denominava o seguinte conteúdo: Procura-se um poeta que defina o amor. E explicou: - Todos falam sobre ele, mas ninguém o define... Seria porque não tem definição para esse sentimento? Num dia o amor traz felicidade, no outro é motivo de dor e lágrimas... Enfim, lançamos o desafio e estamos a disposição dos poetas para ajudar - nesse ponto a poesia se manifestou e pediu que fosse colocada na resolução, porque definir amor, sem poesia é perder tempo. Discutidos os assuntos, marcaram a próxima reunião nas badaladas do tempo, com muitos poemas de amor em sua majestosa definição.


Elair Cabral

NOVO LADRILHAR


Imagem - Google


NOVO LADRILHAR


Despercebida, quieta à beira da cachoeira
Uma pedrinha, o universo a jorrar, olhava
As gotas nem percebiam a pedrinha faceira...
Indiferença que feria e a alegria nublava.

Aquele véu de água exuberante passava,
a olhar horizontes desenhados na distância
Cada peixe, o colorido do rio bordava
A esvaziar as imagens de reviver a esperança.

Um dia sentiu uma mão estendida com fervor
Levou-a até ao céu, envolta em beijos do amor
Distante das águas turvas das tristes desilusões.

Firmou-se com elegância no patamar de outros tempos
Carregada pela sorte chegada à brisa do vento
Encantada na paixão a ladrilhar emoções...

Elair Cabral

quarta-feira, 25 de junho de 2014

NATUREZA, UMA FLOR DIFERENTE


Imagem - Bellissime Immagini


NATUREZA, 

UMA FLOR DIFERENTE 


Por mais linda que sejas pinto-te sempre 
Com mais cor, não que seja mais arte; 
É sim mais amor, é o ar puro do teu ventre 
Que me faz ver em ti uma flor diferente. 

Por mais cores que pincele nunca sei 
A verdadeira cor da tua essência; sim, sei 
Que fico sempre aquém da tua beleza 
E nunca será o poema que é natureza. 

Pelo teu olhar cândido me perco sempre 
E todo o tempo é curto para te respirar… 
A tela é algo de diferente… há entre 
Ela e tu o meu olhar que só sabe amar. 

® RÓ MAR 

POETICAMENTE


Imagens do Mar


POETICAMENTE 


Moram no mar do teu cabelo, os meus dedos.
E são peixes que nadam, em idas e voltas,
e que por vezes saltam, em desafio à física,
contrários à biologia,
ou simplesmente aventureiros personagens de fábulas
que ousam ir para o teu rosto,
esse céu que os chama.

E é lá, nesse céu,
abaixo do por de Sol, feito dos teus olhos que fecham,
que pairam, já feitos gaivotas,
assistindo, em baixo,
a um barco-homem que se faz homem-boca,
abeirando-se
de uma praia-mulher que se faz mulher-boca,
e que então se tocam
(em metáfora),

defendendo a poesia.

Sérgio Lizardo,
in "A que soam os amores?"

O BEIJO DAS ONDAS


Imagem - Google


O BEIJO DAS ONDAS


A dançar ao beijo das ondas
Um barco pequeno...
Feliz viagem,
em resquícios de lucidez!
Num piscar de olhos
encontra-se a vagar em turbulências
Perdera a direção em noite tempestiva
Agora, sem rota...
Balança a mercê do vento que
sopra a revelia do tempo e perde-se
a esculpir imagens indecifráveis
Desnorteado...
A música murmura ao longe
Inaudível, pode-se dizer...
Mas a dança continua
Quantas notas serão necessárias
para que se acerte o compasso? 
Âncoras? Perderam-se 
Velas? Trapos...
Conserva-se o leme!
Menos mal...
Nuvens dispam-se dos raios
Deixem a chuva partir,
e o vento secar as lágrimas das árvores
Silencie os arroubos,
para que o leme direcione o barco rumo ao sol!

Elair Cabral
 

VIOLA ENAMORADA


Tela: AF00389 - Auber Fiori


Viola Enamorada
 

Gregos... Troianos...
Cantos gregorianos, suaves,
Como a noite em suspiros,
A roupagem em lamentos, 
Sobre o soalho de giz, poesia!

Das mãos carícias, 
Pel’alma belas tatuagens 
Desenham-se, vibram eleitas 
Feito viola enamorada
Brincando pelo enfim do sem fim, 
Pelas lágrimas do pranto
Deslizando da face até o peito 
Despindo-se em devaneios 
Tenros, tênues, clave de sonhar!

O silêncio na verdade 
É inspirador a mais um beijo, 
A mais um verso de poros arrepiados, 
Oh, raro sussurro da jura, 
Do soneto de amor 
Em sonata de amar!

Dileta seja a harmonia de sentir!

 Auber Fioravante Júnior
Porto Alegre - RS

ESTOU AQUI…


 Imagem - Bellissime Immagini 


ESTOU AQUI… 


Estou aqui, eternamente perto de ti; 
Onde as estrelas iluminam o caminho; 
Onde as vozes ecoam amor e sonho; 
Onde a alma e o coração estão tão em ti. 

Estou aqui, no limiar de tão universo; 
Onde tu és melodia que soa a astro-rei; 
Onde tu és aquele tão singelo verso; 
Onde tudo é pequeno e alvo, só eu sei. 

Estou aqui, arrobustada pela natureza; 
Onde há tudo e também há ninguém; 
Onde sou feliz e te dou beleza; 
Onde a flor é de amor e é de alguém. 

® RÓ MAR 

terça-feira, 24 de junho de 2014

EXISTÊNCIA E POESIA


Pintura: Rembrandt Hermans Van Rijn


EXISTÊNCIA E POESIA


Vácuo...
Faltava um verso...
Um simples verso!
O poema da existência,
gritava a espera da tinta,
ou da inspiração!
Fantasmas acumulados 
em passadas eras
jorravam pela ausência,
em escala mórbida
Adentrei a fenda e pé ante pé
fui até a sala...
Lancei um olhar para
o confortável sofá
Poderia ali, em plumas, livrar-me dos
antônimos e acabar o poema,
mas faltava o cobertor
Voltei ao vácuo, 
ouvi os gemidos do silêncio,
lancei mão do calor e
com passos de animal felino
voltei à sala, sem alardes...
Deitei-me em confiança e o sono
acudiu...
Os fantasmas esvaíram-se...
E fluiu o poema!

Elair Cabral

domingo, 22 de junho de 2014

ALMA DE CAMÉLIA


ALMA DE CAMÉLIA


Menina de olhos negros no brilho da tenra idade
Símbolo de pureza com seus cabelos compridos
Parecendo fios de ouro espalhados sem vaidade
Amava jogar as tranças no verso era concedido

Era feliz na sua inocência não sofria com desgosto
A mais linda das camélias de meiguice perfumada 
Despertou louca paixão em um lindo e forte moço
Que girou feito um ciclone por essa flor delicada

Ela também se encantou por aquele deus mortal
Que chegou com tanto amor numa flechada fatal
Tornou-se porto seguro âncora dos seus desejos

Em plumas de madrugada a versar amor gostoso
Foram levados por sonhos num soneto fabuloso
A concretizar projetos rabiscando seus ensejos

Elair Cabral

SONHOS PERDIDOS




SONHOS PERDIDOS


Meus sonhos que foram esquecidos
Hoje pergunto onde estão,
Foram sonhos de tempos idos
Já foram há tanto tempo perdidos,
Os meus sonhos onde estão..

Há um tempo para sonhar, e viver,
Os sonhos de um dia, ver com clareza,
Realizando e sonhando sem sofrer,
Mas são apenas sonhos, de fada e princesa,
Quando, desses sonhos acordei ,deixei de viver,

Minha memória não me deixa mais sonhar
Só me deixa reviver,
Se é ela que contem minha história
Para quê, que ela não me deixa acordar
Limpando toda a memória,
E me deixando um novo sonhar

Joana Rodrigues

O ECO DO MEU SILÊNCIO


Imagem -  Woman Bathing, 1925 - Joan Miró


O ECO DO MEU SILÊNCIO


No vento da natureza navego a alma pelo azul mar
E respiro ar puro na árvore por inventar…
Perene verde que esmeralda o céu ao infinito,
Lua cheia, o azul topázio que espelha as águas do mar.

No silêncio ao vento reencontro a vera alma, fonte do pensamento
Que nasce virgem, luminosa… A ‘rosa’ harmoniosa e fermosa
Que é voz, o eco do (a) mar, o natural encanto,
Oásis grato à vida, mor ‘Flor Bela’, a natureza preciosa.

Quanto a venero e amo, ostra do mar, perola ao meu olhar!
No deambular voo ao azul desenhando a perene flor,
 A lua e as estrelas…infinito mar d’ alma pelo céu ao luar.

Ó fonte cobiçada, o eco do meu silêncio, a pura essência!
Bela ‘dama’, alma nobre que floresce a vida em círculos de amor,
A labareda utópica em pleno e genuíno estado, a cândida poesia.

® RÓ MAR


EM ASAS DE SERAFINS


Imagem -  aleijadinho - obras


EM ASAS DE SERAFINS


O doce amargou...
Fujo do breu pela fenda da cortina! 
Pela vidraça lanço um olhar demorado
sobre os lençóis em desalinho...

Lá, despido de bengalas ficara você,
descalço do foco de suas ambições
a correr sem rumo pelos vãos das árvores
Sigo em asas de serafins para além
de projetos em solo
Ao voar consigo reunir alguns cacos,
colar alguns sonhos, renovar rotas
em jogos de xadrez

Elair Cabral

VIAGEM


Imagem - Alessandro Andreuccetti Art


VIAGEM


Venho de outros lados
avisto cercados e portais
lugares íntimos 
perto de ti.
Sinto o ambiente acolhedor
verde escuro intenso
azul no ar da madrugada.
Caminhos sinuosos 
cobertos de árvores
clima perfeito
que a sorte nos escolheu.
Casas estampadas em montes
portas abertas ao silêncio
convite certo 
para a noite que nos espera.

Fernando Figueirinhas

CONTIGO



Poema e Ilustração de Paula Delgado

O CANSAÇO




Poema e ilustração de Leny Mell

sexta-feira, 20 de junho de 2014

O ENCONTRO




O ENCONTRO


Euforia misturada à incertezas gira feito ciclone... O encontro estava marcado. Aconteceu meio que assim, sem esperar. Eu aceitei... Depois não sabia o que pensar... Talvez tivesse sua rota, nas mãos do destino traçada. Surgiu como um raio a faiscar em desatino. Em alguns momentos revelava-se mais como sol da manhã, de dádivas iluminado... Depois amargava em dúvidas, vontade de não m...ais encontrar, de desistir... Então, as incertezas abortavam e tudo voltava a parecer conto de fadas, vislumbre, emoção! Instigante como o Arquétipo de Orfeu e Eurídice, mas talvez eu não seja tão decidida. Poderia mais me colocar nas mãos do destino mesmo, e como Otelo e Desdêmona jogar-me a mercê da tragédia embebida em intensas doses de paixão... Mas, pensando bem, sou mais Merlin e Viviane, e prefiro numa nuvem de magia, envolver-me em sedução, em mistérios, camuflagens espectros de ilusão. Soube desde sempre que encontros podem ser dúvidas na encruzilhada, efêmero entusiasmo, revelação, premonição, cratera no coração, ou, cura para a alma inicialmente apaixonada! Depois do encontro pairam os desencontros; incógnito boreal. O encontro que trouxe alegrias, num instante vira vendaval... Aí, o desencontro aprecia o vulcão em plena erupção e se coloca como imparcial nas dores, na saudade, no peito apertado e na solidão real. Mas, tenho a certeza que encontrarei o caminho, nas notas da bela canção, e as verdes paisagens, do encontro, cúmplices serão! E pelos concretos da vida, nossos rastros ficarão marcados. Um duradouro encontro que do medo virou escada e fez do sonho a ponte, na busca do amanhã ao encontro do ontem para concretizar em fios de quimeras, o hoje...

Elair Cabral
 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

INFINITO OLHAR


Imagem- Daniel F. Gerhartz __Open ArtGroup


INFINITO OLHAR


Infinito olhar… teu saracotear,
Que me deixa perplexo pela dúvida
Se és flor de outono ou labareda de verão!
Observo o teu rosto de chama
Pacifica e perco-me pela calma
Que ele desfolha…

Vejo pelo teu olhar a esmeralda
Que não sei se é preciosa pedra ou astro da vida.
E, perco-me no chá vário de infusões
Que não sei se são flores só de primavera
Ou também alguns restos de folhagem
Do outono que pairam pelo ar.

Infinito olhar… que não me dá paz,
Porcelana refinada
Que não sei se é um toque a sedução
Ou se és até a minha amada!
Vejo à mesa panos que se distinguem
Pela cor, serão só as tuas vestes ou também
O aparato ao chá que nos olha!

Vejo-me ao teu olhar rés à chaleira
E sinto o calor que confunde o aroma
Ao teu perfume, o que não sei se é flor
Ou planta que me quer conquistar!
Pelo teu peito audaz
Vejo a mulher que quero amar,
São tantas as sensações!

Infinito olhar… que me excita…
Talvez seja da seda que o habita,
Ainda assim, quero nele penetrar,
Sentir as raízes do seu nascer…
Ervas raras que não distingo ao te olhar,
Saber o paladar que és e ser,
Talvez, o teu amor.

® RÓ MAR

TÍMIDA LUZ


Imagem - Google


TÍMIDA LUZ


Lampejos de lucidez faiscavam
o vácuo...
Entre a dúvida e a certeza
A tímida luz exibia espectros de sorte
corroídas por peripécias,
de cruzes involuntárias,
caminhos retorcidos
por curvas enganosas
de uma estrada que parecia boa
mas, que se vislumbra à toa...
Sem volta...
Frágeis lampejos indesejáveis
trocáveis pela escuridão
da noite nua...
Em que lágrima esconde-se 
a ascendência?
Em que parte do sideral
Uma estrela pousa-te
Num linear, não absoluto
Mas, em parte...
Para na paz, mergulhar na arte?
E assim preencher o vácuo...
Abrir a porta da alegria
Iluminar o mar de pedras...
Vestir a noite de poesia...

Elair Cabral

IMPRESSÕES


Imagem - Natalia Maroz - Voyage au coeur de l' Art


IMPRESSÕES


Deixem murmurar os rumores,
Há excesso de impulsos.
São curtas as horas!...
São pequenos os dias.
Fala-se muito de pouco.
A palma da minha mão,
É como um retrato.
Uma árvore seca enrugada.
As folhas, de tão verdes,
Murcham exaustas. E caem.
Uma árvore nua e crua,
Como nua te amo, mulher.
Imóvel como uma pedra,
Uma composição selvagem,
Uma qualquer vida própria.
São rumores. Suposições.
Só os meus poros gritam,
Incomodados do ciúme.
Suo como a chuva,
E crescem árvores e flores.
Da boca cuspo fogo,
O que mata e renova vidas.
As horas são curtas.
Os dias cada vez mais pequenos.
Falta-me tanto de tudo!

Carlos Lobato

O MEU VAZIO SOU EU


 

O MEU VAZIO SOU EU


O meu vazio sou eu,
O meu ser, o meu querer
O meu ver...
O meu saber,
Tudo é o meu vazio
Sou como água a correr
Num pequeno rio,
Que mesmo sem
Me aperceber,
Eu encontro sempre o meu eu,
E o meu eu, sou eu,
O meu vazio
Como as águas mansas
De um rio
Como aquele que vês
E não te cansas,
Porque ali não há vazio
Existe um rio,
Nele não há extinção
Nem vazio, há um rio
Que corre cheio de ilusão
Porque no seu coração,
Existe um choro frio
Porque no meu eu
Há um imenso vazio
Um vazio apenas meu,
E só meu.

Joana Rodrigues

quarta-feira, 18 de junho de 2014

PAREDE DE VIDRO


Imagem Google


PAREDE DE VIDRO


Presa no meu “eu”, olho através da parede de vidro
Perco-me, no vazio repleto, do mundo exterior
A parede embaçada pela névoa da angústia, me enlouquece.
O olhar opaco burla o vidro mole que corre pela vida
Sobram palavras, faltam imagens, faltam sons
Se a poesia nasce pela imagem?
Como ocupar a imagem pelo “ser”, se não me reconheço? 
Como apreciar o chover retorcido entre os vãos das árvores,
Se o rio não me percebe por detrás dos vidros?
Alguém me mostra o rio e o espreme contra a parede
Alguém toca um violino para inverter os acasos. 
Não ouço a melodia, não ouço ritmo... O viver perde o compasso 
O medo da lucidez aparece e me entrega aos seus silêncios
Porque me separas do oceano, se não me escondes?
Vem à noite... Silêncio e escuridão se misturam
No desespero que brota do âmago de minha alma
Suplico a poesia – Vem... Habita minha alma e me socorre
Ouve meus desenganos, minhas limitações e me liberte! 
E como por encanto... Ouço o som dos estilhaços!
Ouça a voz do mundo e finalmente, minha voz ecoa num Grito...

Elair Cabral