UM POEMA SEGUROU-ME AS MÃOS
Estava eu sentado, a escrever um poema,
quando o poema – esse mesmo poema –
me segurou as mãos e me disse que eu as tinha frias.
“Tens as mãos frias”, disse-me o poema que escrevia,
e eu, levando nelas o poema – esse mesmo poema –
juntei-as, e entrecruzei os dedos delas sobre a mesa.
Olhei as mãos, descruzei os dedos e separei-as,
e larguei o poema que escrevia, para escrever outro.
Larguei o tema «saudade» e peguei no tema «amor».
Senti, logo depois, que o poema – o novo poema –
me puxou pelas pernas. “Levanta-te”, disse-me ele.
E eu vim, amor – para que me segurasses as mãos.
Sérgio Lizardo
In "Poesia com nomes de mulher"