Ilustração: obra de An He
LENÇO DE SEDA
Assisto ao parto
Das palavras doutas
Seduzido p' los teus olhos
E o teu rosto de lua
Gatos pardos e velhos
Acariciam-me as pernas
Trémulas pelo temor
De não entender o mundo
E a paixão do teu amor
Resta-me o lenço de seda
Chinesa, p' ra limpar a alma
Enquanto não se põe o sol
E a noite acorda os sapos
Verdes ávidos de chuva
Resta-me o silêncio!
E a memória do teu beijo
Daquela noite escura
De novembro
Resta-me o rosto
Pintado pela cor
Esbatida do teu batôn
Agora!
Tudo está consumado
Definitivamente
Num gole da última gota
Saboreada divinamente
De uísque velho escocês
Eu penso no amor!
Essa palavra ancestral
Que mata corações
Frágeis e rouba a vida
Agora restam ilusões
Tudo está consumado
E, eu estou de saída
Serenamente, enamorado
Pelo secreto mistério
Por Deus criado
E por este poema
Que escrevi inspirado
P' ra limpar as lágrimas
Desta eterna tristeza
Resta-me o teu lenço
De seda chinesa.
Joaquim Jorge de Oliveira