VIAGEM FORÇADA
Ei-los que partem!
Sonhando no céu do além
Ei-los que partem!
E, eu parto também!
Despeço-me dos teus beijos!
E parto com o coração dividido
À procura da vida aqui roubada
E, choro no teu ombro querido
No teu rosto de mulher amada
Despeço -me dos teus beijos!
Levo o teu amor no coração
E o cheiro do rosmaninho
Perfume desta velha nação
E despeço-me com carinho
Num gesto de choro e emoção
O comboio dá sinal de partida
Como se rumasse à eternidade
E me roubasse de ti a vida
Num ato de pura crueldade
Corta o cordão umbilical
Que nos une à felicidade
Esse dom sublime e divinal
Despeço-me dos teus beijos!
Escondo uma lágrima fria
E, juro cumprir teus ensejos
Quando, eu voltar um dia
Agora, vou! Só e triste sem ti!
Mas, levo no peito a saudade
E ainda daqui não parti!
Deixo as paisagens da terra
Onde brinquei e cresci
Como se fosse para guerra
Onde quase um dia morri
Despeço-me dos teus beijos
Com humana dor no peito
E aprecio os velhos azulejos
Decorando o país a preceito
Despeço-me dos teus beijos!
E do paraíso onde me deleito
Forçado pela pátria madrasta
Estatuto que eu não aceito
Que me obriga e arrasta
Pra fora do nosso divino leito
Despeço-me dos teus beijos!
Nesta manhã antiga e fria
Que exulta os meus desejos
Aqui expressos nesta poesia
Deixo os barcos velhos no mar
E os teus olhos postos no céu
E parto sem ti a chorar
Condenado como um réu.
© Joaquim Jorge de Oliveira