Cantiga Da Natureza
Sorrio fluente em carne osso te escuto
Meu curso é corrente corredeira...
Sorrio dentro volátil, etérea sou vulto
Sou dama do vento, artesã de amor fiandeira
Um dia no teu peito fiei-me amiúde faceira
Contornada por teus lábios musicais
No dia em que meu sorriso cigana feiticeira
Bebeu nos olhos teus cântaros florais
Tive em ti minh' fonte inesgotável cardeal
Encontrei-me em tua nascente e riste
Em teu sorriso estrelato o blues labial
Vi tanto amor que a tua luz me consiste
Existo agora sigo minha própria profecia
Anunciada instintiva e melodicamente
N'aurora que choramingava poesia
Garoa e amor era jazz tocando pra gente
Hoje águas cantantes correm em fio
Descem contornando o lodo das pedras
Cantarolando chuá, chuá quebrando o vazio
Uivam os lobos escorregando nas hedras
O frio de agosto é grilo cantata silenciosa
A brisa da manhã cobre o pistilo da flor
A relva e o rio, o véu é orvalho clamor da rosa
Deita ao carvalho o dia branco incauto amor...
Imagino tantas coisas sê-me rio com languidez
Meu pensamento sem pudor é mel plácido matutino...
Não caberia num só haikai japonês minh' alma e nudez
São tantos detalhes num beijo nas nuvens do celestino
Só nosso sangue sôfrego falando a língua tupi-guarani
Sabem o encantamento de Jacira o olor do hortelã
Por ser tão desconhecido o céu agreste agora é aqui
Ah! doce lua ao progenitor d’ aurora em amor Tupã
In vitro alquimia vibra e compõem a fibra do amanhã
A estória se repete e a retórica hoje sempre dura
O vento trajado à paisana diz poesia é chama e Xamã
Libertário o feixe dá luz e conceção ao ventre da criatura
Segura pela cintura seduz o místico torna o sonho afável
O que será que me quer dizer oculto ama o pronome?
Me oblíquo numa linguagem do tempo Inexorável
Memorável o romance permanece e acalento teu nome
Em todo canto todo dia se renasce a cada lua
A mesma cantiga reina em nossas Vidas
Minh’ ode em lira despida é poética desnuda na língua tua...
Assim te amo e ávida a vida diz continuas...
Son Dos Poemas
Sônia Gonçalves