Pintura de Túlio Dias
Hoje vou falar de mim
Falo dos outros,
Mas não me esqueci,
Quero também,
Falar de mim.
Gosto do campo,
Do cheiro dos lírios,
Dos fetos, das giestas,
Das urzes quando abertas!
Das veredas com pedras,
Dos zambujeiros carregados,
Mal empregados! São bravos.
Dos arados nos campos,
O verde a perder de vista!
Dos animais andantes...
Gafanhotos saltitantes,
Dos galos com crista.
De mochila às costas,
Com um pau na mão.
Subo encostas,
Salto um pontão.
Pareço uma turista,
De calção e chinelo no pé.
Não me assusta, rebolar no chão,
E usar na cabeça um boné.
Adoro o azul do céu,
Sobre o meu corpo deitada!
Na erva do chão crescida,
Sobre ela, fico refastelada!
Se tiver pingos d' orvalho,
Não me importo, até gosto!
Chega-me às narinas,
Vindo daquelas colinas,
Cheiros de terra molhada!
Sou fácil de contentar,
Com uma saca de serapilheira,
Sobre ela posso dormir,
A sesta, a tarde inteira.
E se houver lêvas no chão,
Não me importo, não faço caso!
Rebolo até ficar, com o corpo composto!
Sou filha do campo. -"Tanto que gosto!"
O chão é o meu colchão,
Esse não o descanso!
Ser feliz p'ra mim, é isto!
P'ra muitos, nem ver...
P'ra mim um desgosto,
Se aquilo que gosto,
Não o pudesse fazer!
"Seria como uma flor numa jarra,
Triste, decerto que murchava,
E acabaria por morrer!"