OS OLHOS DA PRIMAVERA
Os olhos da Primavera
No corpo do meu jardim
São os gémeos da quimera
Que eu tenho dentro de mim.
Toda a ansiedade latente
Que navega numa espera
Traça na alma da gente
Os olhos da Primavera.
Bate-nos à alma a saudade
Daquele aroma carmesim
Com vestes de raridade
No corpo do meu jardim.
Se os sonhos da natureza
Nos fazem a vida severa
Pela sua breve aspereza
São os gémeos da quimera.
E se ao meu redor desponta
Uma tristeza sem fim
Deve-se à névoa sem conta
Que eu tenho dentro de mim.
Os olhos da Primavera
Não sendo assim tão austeros
Dão uma razão que pondera
A justeza dos temperos.
Toda a visão tem dois lados
O “fora” e o “dentro” pensante
Que o sonho faz entrelaçados
Numa luz determinante.
As coisas de fora são belas
Na mais genuína beleza
Quando da alma as janelas
Nos abrem pr´ à Natureza!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA