segunda-feira, 17 de novembro de 2014

ENTRELINHAS


Entrelinhas


O silêncio gritava...
O tique, taque parecia estrondoso!
O piar de um pássaro noturno
ardia na alma do silêncio!

Quanto silêncio...

Quantos sons!

E num gritante respirar da noite, 
a voz se ouviu!
Era mais que uma voz, era um rosnar
do destino apontando para o vácuo.

Vazio infinito!

E a voz das entrelinhas não dava tréguas...
Era preciso lê-las, ou o silêncio as engoliria!

Então o leitor enfrentou o poeta,
e os versos foram sugados um a um,
dando voz à inspiração que brotara
do silêncio!

Elair Cabral!

ÂNCORA




Âncora!


Sou âncora de um pensamento, jamais esquecido, 
em que o homem do leme adormeceu 
caindo nas águas profundas de um rio.

Emaranhada em algas e perdida no tempo por lá fiquei, como o barco enraivecido 
em tormentas, onde o céu desceu para o beijar.

Ainda preso aquela âncora em que o pavio vai desfalecendo 
nas horas já gastas do pensamento entre o ontem e o amanhã, porque as lágrimas 
vertidas e retidas em imagens de um passado vivido 
e de um presente futuro, morrem no abismo 
negro desse mar.

Âncora enferrujada, despojada, abandonada, sem rumo 
esquecida, sem dó ou lamento neste agora que se perdeu.

Só restam as lágrimas
desse rio.

M.C. - Manuela Clérigo

terça-feira, 4 de novembro de 2014

AINDA NÃO TE DISSE QUE AINDA TE AMO


Imagem - Emozioni ed Atmosfere


AINDA NÃO TE DISSE 

QUE AINDA TE AMO


Ainda não te disse que ainda te amo,
Que ainda não te esqueci; não sei dizer
Ou até saiba, mas, sei que é longe a ser;
Nada escutas de mim, mas, amo-te.

Amo-te tal outrora, ou, até ainda mais,
Perco-me em entrelinhas e esqueço
Que nem entenderias que ainda penso
Em nós e o quanto ainda tenho a dizer-te.

Ainda não te disse que ainda te amo;
Nunca é tarde demais para o fazer,
Ou até seja, mas, jamais é demais;
Nada que o tempo não dê, porque amo-te.

Amo-te tal outrora, ou até ainda mais;
Quando escapulirem as turvas águas
De meu olhar, notarás o `Sol´ das tréguas
Então, dir-te-ei o quanto ainda tenho a amar-te.

® RÓ MAR

SONETO OUTONAL


SONETO OUTONAL 


Gotas de água deslizam nas janelas
E o vento agita as folhas no arvoredo
Que vão caindo tristes, em segredo
A denunciar as penas dentro delas.

As aves, ainda ontem sentinelas
Cantando ao desafio de manhã cedo,
Abrigam-se por hoje entre o vinhedo
Esperando que o sol chame por elas.

Também eu, com as penas engelhadas
Num fim de tarde muito denegrido,
Trauteio as minhas ânsias em baladas.

Compondo este soneto desvalido
Com as ideias meio emparedadas
Não oiço deste outono o seu ruído…

Mas cá dentro de mim, em sinfonia,
Sinto porém um disperso alarido
Com sonhos e emoções em sintonia.

Frassino Machado

In MUSA VIAJANTE

DESEMBRULHO PALAVRAS...


Desembrulho palavras…


Escrevo-te aqui ao luar
No ventre do meu querer
As tuas paredes são de amar
Tua vida nelas sente prazer

Saco das gavetas palavras
Melhoro assim meu pensamento
São palavras que me foram dadas
Para em ti sentir este momento

Sois as mãos que eu quero ver
A desembrulhar palavras vivas
Há traços e riscos do meu crer
Nessas palavras por ti queridas

Jorram palavras nesse papel
Escorre a tinta do tinteiro
Nenhuma delas sabe a fel
Destinam-se ao mundo inteiro

Há palavras que me vestem
Desde a noite até ao ser dia
Quando assim que se prestem
Para te darem alguma alegria.

Armindo Loureiro 

sábado, 1 de novembro de 2014

N O V E M B R O


Imagem - Lo Charme è un nodo da stringere con stile


N  O  V   E  M  B   R  O


N   ovembro tem pitada de misticismo e largo coração,

O   tal décimo primeiro mês do ano!

V   erão de S. Martinho trajado de tradição,

E   ntre chuvas e ventos há fogueiras ateadas,

M   aré alta, trovoadas de castanhas assadas;

B  élicas parreiras que esparralham seu frutos

R   otulando a terra de safra diva, néctar de novo ano.

O   lvidai os maus presságios e colhei estes belos frutos!

TEMPORAL


TEMPORAL


A chuva beija-me a face, gotículas reluzem meus olhos.

Empoço meus pés, mesmo molhados, levitam conhecem
o caminho...

As roupas encharcadas, olhares curiosos, faces desconhecidas,
gracejos e sorrisos...

Minha mente alimenta-se da nona sinfonia, Beethoven acelera meu
coração...

Ponteio o céu, o vento afasta as nuvens, meu caminhar é leve, meu
coração acelera...

Atento-me a uma sombra de corpo presente, enlaço-me nos seus braços,
banho-te com o doce e o sal, o amargo e mel...

Adentra no meu ninho, constata a escassa síndrome de cinderela.

Observa as rosas sem viço, saudosas das suas mãos, do brilho do seu
olhar...

Querido, tingi as paredes de azul, o cinza ficou envelhecido, isolado
no passado...

Ruborizo diante dos seus olhos castanhos, disfarço, desconverso, embaraço-me com o seu olhar,
sua ternura em falar...

Repouso meu cansaço no seu corpo.

Seu calor abrasa-me o corpo, numa febre que faz enlouquecer, nessa magia, somos apenas um
Eu sou você.

Rosely Andreassa