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PAREDE DE VIDRO
Presa no meu “eu”, olho através da parede de vidro
Perco-me, no vazio repleto, do mundo exterior
A parede embaçada pela névoa da angústia, me enlouquece.
O olhar opaco burla o vidro mole que corre pela vida
O olhar opaco burla o vidro mole que corre pela vida
Sobram palavras, faltam imagens, faltam sons
Se a poesia nasce pela imagem?
Como ocupar a imagem pelo “ser”, se não me reconheço?
Como apreciar o chover retorcido entre os vãos das árvores,
Se o rio não me percebe por detrás dos vidros?
Alguém me mostra o rio e o espreme contra a parede
Alguém toca um violino para inverter os acasos.
Não ouço a melodia, não ouço ritmo... O viver perde o compasso
O medo da lucidez aparece e me entrega aos seus silêncios
Porque me separas do oceano, se não me escondes?
Vem à noite... Silêncio e escuridão se misturam
No desespero que brota do âmago de minha alma
Suplico a poesia – Vem... Habita minha alma e me socorre
Ouve meus desenganos, minhas limitações e me liberte!
E como por encanto... Ouço o som dos estilhaços!
Ouça a voz do mundo e finalmente, minha voz ecoa num Grito...
Elair Cabral
Elair Cabral