sexta-feira, 26 de novembro de 2021

ATIRA-ME AO VENTO




Atira-me ao vento


Atira-me, meu amor,
ao vento norte,
ao siroco, ao sudoeste,
aos ventos que mais sopram
em Portugal,
minha pátria inquieta,
sempre ancorada
nos destinos
de qualquer viagem
ou dá-me inteiro
às nortadas frias
num qualquer sonho
de delírios acordados
ou adormecido
nos ventos quentes
e deixa-me sozinho
nas areias cálidas
a norte do longe.
Arrastai-me ventos
que eu não tenho velas,
sou todo quilha
e mastros nus,
uma nau feita tempo.
Abraça-me depois
nos oceanos todos,
exuberante,
que eu sou Portugal
e vou com qualquer vento.
Atira-me, amor, ao vento.

© António F. Martins