PASSADO DISTANTE
Passado distante
Mas inda presente
Nos olhos, na mente,
No amor militante,
Saudoso e arfante
De paixão latente!
Meiguice, ternura,
Que em gestos mostravas,
Nos beijos que davas
Com certa candura
Inocente e pura
E t’envergonhavas…
Também eu sentia
A mesma atracção!
Doce sensação,
Que o corpo invadia
E o rubor subia,
Ao darmos a mão…
Depois de mãos dadas,
Em suaves passos,
Sonhavam-se abraços,
No escuro da estrada…
E uma voz velada,
Fazia ameaços…
Era a consciência!
A voz da razão!
Chamando à atenção,
Alguma imprudência,
Da nossa inocência
Feita de ilusão!
Talvez fosse amor,
Essa chama acesa,
De casta pureza…
E se isto amor for,
Tenho a certeza,
Que não há maior!
Mas quis a distância
E o Destino atroz,
Que houvesse entre nós,
Alguma ignorância
E na circunstância,
Alguém s’interpôs!...
Ficou a lembrança,
Que hoje nos invade,
Trazendo a saudade,
Da nossa aliança,
Carregada de esp’rança,
De amor e verdade!...
José Manuel Cabrita Neves