sexta-feira, 23 de maio de 2014

SUSPIRO-TE! (MEU AR)




Suspiro-te! (meu ar) 


Estou a ponto de ser sem forma nem cor. Estou a ponto de ser ar, apenas ar. De ser o ar que se vai distinguir dos outros pelo cheiro. E será o teu cheiro: o do teu perfume também mas o da tua pele sem ele, em proporção maior. Para seguir o teu rasto, estou a ponto de me esfumar – dizem que o amor tudo pode. E tem que ser hoje. Hoje está vento, e venta nessa direção. Estou a ponto de ser o ar que se desloca e chega. De entrar pela frincha da tua porta. De pedir licença aos ares que aí estejam, e então fluir, fluir, fluir mais por entre eles. E subir, subir, subir não muito – não és alta. E ficar, ficar, e esperar: que termines de expirar, que inspires depois, que me inspires. Estou a ponto de ser o teu respiro. Entretanto, suspiro! Suspiro-te! (meu ar)


Sérgio Lizardo