quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A FLORESTA, O GATO E EU


A Floresta, o Gato e Eu


Era meia noite...
Em passos leves entrei de mansinho
Os ramos artríticos tocavam ao som do vento norte
Fui à procura de repouso e de um ninho
Atravessei mansamente trepando pé ante pé
Não queria acordar o silêncio nela contido
A cabeleira da montanha deixou soltar um grito
Estremeci!... De repente estagnei!
Olhando em volta, senti-me aterrorizada!
Calmamente algo surgiu de entre as giestas amareladas
Preto... era a sua cor... só lhe vi os olhos reflectidos
Aproximou-se de mim cognitivo... sem mais, sentou-se à minha frente
Olhou-me no olhar... entrou-me dentro da alma... deixei-o cheirar
o meu espírito.... Com a sua agilidade felina inextinguível
O teu pelo preto reluziu quando uma nuvem passou ao lado da lua
As tuas sete vidas entrançaram-se na minha...
E algo mágico sucedeu... insaciável procuravam algo no meu âmago
Mas o quê???
Quando finalmente te desprendeste de mim
Senti-me flutuar como que num sonho etéreo
Como se a alma tivesse deixado o meu corpo por breves momentos
Acordei na minha cama, tranquila, serena,
Senti-me elevada na tua sabedoria e doce altivez
Voltaremos a encontrar-nos algum dia?

Áurea Justo