quinta-feira, 7 de agosto de 2014

"CARRIÇA"


"CARRIÇA"


Extravaso na música e poesia
As saudades que tenho da relva molhada.
Das flores de várias cores,
Do Noveleiro estremunhado
Quando acordava no meu jardim.
Ai! pássaros de penas leves
Por onde andais neste dia?
Não vos vejo saltitar nos galhos da cerejeira,
Nem debicar na figueira os figos pinho de mel.
Onde estarão as formigas que faziam os carreiros?
No meio dos meus canteiros, pintados de cores garridas.
E as toupeiras que viviam no fundo da terra fresca, e a deixavam movediça?
Onde andará a Carriça. tão pequena e deslumbrante,
Que fazia o seu ninho no buraco do tijolo, redondinho e bem forrado.
Que será do Melro negro!
Não sinto o seu cantar, nem o vejo a brincar na roseira amarela,
Aquela que me sorria, quando abria a janela.
Nada mais pra recordar,
Porque não quero pensar, e cansar a minha memória,
A vida é uma história, que se vai afundando no horizonte,
Onde um dia havia uma fonte, e hoje um rio, tão seco, tão seco,
Que não tem uma gota, para regar uma papoila perdida no meio do monte.

Margarida Fidalgo